quarta-feira, 1 de abril de 2015

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Elogio fúnebre ao Dr.º José de Almeida


Caros amigos



O Dr. José de Almeida foi um homem de fé, acreditou que, a vida era uma passagem. O facto, do destino ser desconhecido, torna a nossa vida mais exigente, na medida em que, devemos orientá-la na defesa dos valores, que nos foram transmitidos, primeiro, por Deus e, depois, pelos homens de boa-fé.

A defesa dos valores, nos quais acreditamos, exige de nós um esforço que, varia de pessoa para pessoa. A, José de Almeida foi exigido um esforço muito grande, ao qual correspondeu de forma digna e nobre. 

A nobreza de carácter deste homem foi testemunhada por muitas pessoas, especialmente, por aquelas que, com ele privaram mais de perto, nunca, deixou de ser íntegro no pensamento e na ação. 

Foi sempre fiel àquilo em que acreditava. Acreditava na família, por isso fundou uma família exemplar de que, muito se orgulhava. 

Liderou uma causa, a causa açoriana, com coragem, imbuído do sentimento da defesa dos valores da liberdade. O homem nasce livre, mas nem sempre usufruiu plenamente dessa liberdade, justamente, porque necessita de se abrigar no seio de uma sociedade. 

A sociedade é uma mescla de virtudes e defeitos, onde se valoriza os interesses de forma excessiva. Todos nós temos interesses, a defender, no entanto, devemos evitar, que os nossos interesses se sobreponham aos interesses do nosso próximo. 

O próximo deve ser amado, tarefa muito difícil de realizar, no entanto, há quem a realize com espirito aberto e abnegado. 

José de Almeida foi um homem de espírito aberto e abnegado, ouvia todos com cordialidade e prestava-se a discutir as ideias alheias, com um sentido de grande humildade e elevação. 

Num mundo onde o radicalismo está a frutificar, José de Almeida foi um exemplo, na forma como procurou defender as suas ideias, sem deixar de valorizar a opinião dos outros.  

Homem de convicções claras, que procurou sempre aprofundar e debater, com a consciência de quem não era dono da verdade. 

Foi um defensor da paz social, apesar de ter recaído sobre si, o ónus de ações violentas praticadas por terceiros, sem nunca ter rejeitado responsabilidades, arcou com elas, sem as ter promovido. 

A causa que abraçou tinha um objetivo, lutou por ele, sem semear ventos, foi um pacificador, que defendia a negociação e o entendimento como forma de alcançar a independência dos Açores. 

Os líderes têm, normalmente, esta postura, desafiam e combatem com determinação, mas com respeito pelo adversário. Foi general e soldado nesta campanha, portou-se, sempre, de forma admirável. 

José de Almeida podia ter sido um homem muito importante na sociedade açoriana, ofereceram-lhe essa oportunidade, mas nunca trocou o seu ideário, por benesses.  

Foi vertical, foi honesto com todos, mesmo com aqueles que desejavam a sua ruína política. A guerrilha política não fazia parte da sua maneira de ser. Participou no jogo político, sempre, com lealdade. 
O seu exemplo há-de frutificar, para já, tem um lugar assegurado na história dos Açores, só reconhecível, aqueles, que contribuíram de forma superior, para o seu engrandecimento. 

José de Almeida despertou muitas emoções e paixões, que permanecerão bem vivas na memória de muitos de nós.
Este homem merece a nossa admiração e respeito. 

Espero, que sejamos capazes de preservar o seu exemplo e, de dar continuidade ao seu pensamento, se o fizermos, muitas mudanças irão ocorrer a breve trecho nos Açores.

O futuro a Deus pertence, no entanto, não nos devemos demitir de contribuir para que, o Povo Açoriano consiga alcançar, sem aventureirismos, um futuro melhor. 

José de Almeida amou a sua família e, amou com a mesma exemplaridade, a família açoriana. 

Bem-haja. Ficam as recordações de um homem de bem. Paz à sua alma. Aqui fica sepultado um grande homem. 

Termino, pedindo a todos os presentes, uma eloquente salva de palmas, para um paladino, de grande mérito, da causa açoriana.


sábado, 28 de junho de 2014

Os deputados que temos


                Recentemente foi publicado um artigo no jornal AO intitulado: “FLA, uma causa perdida”. Depois de alguma ponderação, considerei que deveria escrever estas palavras porque pareceu-me que, mais do que um artigo de opinião, era um artigo de provocação. Sabendo que o articulista é deputado regional, considerei que uma pessoa com aquela responsabilidade, não poderia, nem deveria, referir-se a outros cidadãos com a arrogância, ironia e falta de respeito que constatei.

                Em primeiro lugar gostaria de dizer que não existem pessoas neutras. Sempre que alguém faz uma leitura da realidade fá-lo através de uma janela teórica e de valores e a partir da análise do que afirma é possível identificar o seu quadro de pensamento e consequentemente as suas motivações e mesmo o seu caráter.

                Quando o articulista escreve: “um grupo de respeitáveis cidadãos, na sua maioria septuagenários, continua a insistir, a cada ano que passa, na ideia peregrina do futuro dos Açores passar pela independência”, parece-me que seria mais correto dizer: um grupo de cidadãos continua a insistir na ideia de que o futuro dos Açores passa pela independência. Ao recorrer sistematicamente à adjetivação está a revelar-se tornando-se transparente em relação a certas ideias, como por exemplo: (1) até prova em contrário, todos os cidadãos são respeitáveis e não lhe foram atribuídas competências para classificar os cidadãos em respeitáveis ou não respeitáveis (manifestação de prepotência); (2) o facto de serem cidadãos septuagenários não lhes retira direitos nem pode ser apresentado como argumento para fragilizar as suas ideias. Quando se recorre a este argumento é porque se acredita no contrário (manifestação de descriminação); (3) apesar de alguns dicionários referirem que, enquanto adjetivo, a palavra peregrino significa «raro; excecional; extraordinário», a expressão «ideia peregrina» é muitas vezes usada em sentido irónico ou negativo, como equivalente a «ideia estranha, excêntrica» (manifestação de arrogância). Aceito que o articulista possa discordar das ideias dos outros, mas nada lhe confere o direito de as adjetivar da forma que o fez, até porque faz parte de uma instituição que resultou das lutas que se desenvolverem em nome das “ideias peregrinas” que refere.

                Poderia continuar a citar mais exemplos indicadores da falta de espirito democrático demonstrado, mas tenho que analisar a matéria de facto.
                O grupo de cidadãos que, este ano, esteve presente nas celebrações do 6 de Junho (uma simples conferência de imprensa) era constituído essencialmente por jornalistas, conferencistas e independentistas de várias idades. Não estavam presentes mais pessoas da minha geração, porque a maioria tem um horário de trabalho a respeitar. Os profissionais da política não sabem o que isto significa, porque para eles os horários são sempre adaptáveis às suas atividades. Eu, para estar presente, tive que conciliar, com alguma dificuldade, o meu trabalho com a referida conferência de imprensa.

                Segundo o quadro teórico do articulista “nunca fez sentido os Açores serem independentes” por duas razões: primeiro “porque somos autónomos” e segundo porque “os independentistas são meia dúzia de intelectuais românticos (…) que continuam a acreditar numa causa perdida…”.

                Como é óbvio, nada impede uma região autónoma de se tornar independente e a História confirma que não seria a primeira vez, para além de que muitos dos países que existem já foram parte de outros. Quanto à meia dúzia que diz serem os independentistas, gostava de saber que metodologia aplicou para os contabilizar. Pura intuição, o que em democracia não confere autenticidade e credibilidade aos factos. No dia em que os independentistas se puderem organizar em partido e forem a votos, ou então, seja feito um referendo, aí poderão dizer quantos são. Até lá o correto é dizer: - Parece-me que os independentistas são um grupo pequeno. Simplesmente, parece-me. Em relação ao facto de considerar a causa açoriana como perdida, lamento ter que dizer que todas as causas que vingaram, foram consideradas perdidas, pelos seus opositores, até ao dia em que se concretizaram.

                Quanto à comparação da nossa situação com Cabo Verde, para se ser rigoroso é necessário saber quais eram as condições em que se encontrava este país quando se tornou independente e que percurso fez, ou seja, de onde partiu e onde chegou. Por outro lado, prefiro comparar o caso dos Açores com o de Malta, parece-me mais razoável e aí de certeza que vamos ter surpresas. Como acredito na capacidade empreendedora dos açorianos, considero que têm condições para fazer mais do que tem sido feito. A grande diferença é que eu acredito nos açorianos e o articulista não. Também considero que se existisse uma cultura de responsabilização, os Açores estariam melhor do que estão e verifico que a autonomia tem sido a grande responsável pelo estado a que chegamos, para o bem e para o mal. Os Açores estão sem projeto e, como resultado, temos um poder regional desnorteado, sem ideias, onde os governantes vão-se fechando num mundo que, cada vez mais, vive isolado da realidade. Os políticos falam uns para os outros numa linguagem que só eles compreendem, trocando pelouros entre si e quando das eleições convencem um número cada vez menor de eleitores a lá ir colocar o voto. Estamos perante um estado de autismo político que necessita ser invertido, e a única força politica que está em condições de fazê-lo são os independentistas.

Só assim se compreende que um deputado escreva um artigo de opinião sobre um grupo de cidadãos que considera que lutam por uma causa perdida. Desta forma, a sua atitude é contraditória. Por um lado, os independentistas são meia dúzia que lutam por uma causa perdida, mas por outro lado, é necessário combatê-los.

Por quê tanta preocupação, se são só meia dúzia?

Lagoa, 19 de Junho de 2014

Rui Machado de Medeiros

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Comunicação de 6 de Junho de 2014


Trinta e nove anos passados sobre o dia 6 de junho o significado desse dia continua cada vez mais atual na nossa vida politica. Esta afirmação pode parecer uma frase desprovida de conteúdo que poderia ser formulada por quem quer dizer tudo ou por quem não quer dizer nada, porém, para que possa ser encontrado o seu sentido é necessário compreender o que se está a passar na nossa vida politica.

Estamos a viver uma fase em que o poder Regional se encontra completamente desorientado, sem projeto e agindo como uma mera estrutura de gestão. Este impasse também é extensivo à nossa situação económica, pois estamos na mesma posição que estávamos há cem anos, (uma região essencialmente agrícola, que avançou um pouco no turismo e nas pescas e recuou na área da industria) o que significa dizer que as políticas adotadas foram erradas e consequentemente o setor produtivo pouco mudou, exceto no que se refere à distribuição de riqueza que se tornou mais abrangente.

Por outro lado, Portugal continua a publicitar as transferências que efetua para a região e esconde os benefícios que tem com esta possessão, nomeadamente na cobrança de impostos das empresas que prestam serviços na região e têm sede fora, na exploração do nosso espaço aéreo, na exploração do nosso mar e nas vantagens inerentes a quem controla um espaço territorial tão vasto como o açoriano, etc, transmitindo uma imagem de filantropo e consequentemente fazendo passar a imagem de que só temos a lucrar com a sua aparente generosidade.

A incapacidade que o poder regional tem demostrado em contrariar esta condição tem contribuído grandemente para diminuir a sua autoestima, e consequentemente tem fortalecido a posição de Lisboa.

Em síntese, os Açores estão politicamente em recuo e economicamente sem grandes soluções.

É também conveniente salientar que a autonomia foi uma consequência das lutas independentistas e foi arrancada a ferros. Não foi uma dádiva, nem tão pouco foi uma conquista da democracia. O que aconteceu foi que a democracia proporcionou-nos a possibilidade de reivindicarmos poder, e, então, soubemos aproveitar a brecha que o sistema nos proporcionou. É importante referir que quando se fala de autonomia, independência ou centralismo, do que nós estamos a falar é de poder e este não se dá. O poder arranca-se, conquista-se, exige-se e para tal é necessário que existam condições para poder o fazer.

Este princípio foi ignorado pelos autonomistas (não sei se intencionalmente ou não) e convenceram-se que a autonomia era um direito que naturalmente nos seria reconhecido, que era uma conquista irreversível e que seria progressiva.

O poder regional cedo percebeu que o progressivo era muito ambicioso e passou a falar de uma autonomia tranquila estando neste momento a assistir impávido e impotente à transformação da autonomia tranquila em autonomia regressiva.

Este facto tem sido possível porque como o Regime autonómico não tem suporte teórico, ele pode ser o que os intervenientes bem entenderem. Aqui é uma coisa, em Estanha outra, na Palestina ainda é outra, visto ser a síntese de duas vontades distintas. Porém, onde quer que ela surja não consegue contrariar o princípio de que quando existe um grande e um pequeno o consenso é sempre a vontade do grande. Quando em 75 se deram os primeiros passos na conquista do poder regional a situação era muito diferente. Os açorianos estavam cheios de força e acreditavam em si o que os tornava grandes e lhes permitia sonhar com uma autonomia progressiva. Agora que a posição açoriana está enfraquecida, a vontade de Lisboa tem imperado.

Com um poder regional desnorteado, sem ideias, nem projeto, os nossos governantes lá se vão fechando num mundo que cada vez mais vive isolado da realidade. Os políticos falam uns para os outros numa linguagem que só eles compreendem, trocando pelouros entre si e quando das eleições convencem um número cada vez menor de eleitores a lá ir colocar o voto. Estamos perante um estado de autismo político que necessita ser invertido, e a única força politica que está em condições de fazê-lo são os Independentistas. Estes continuam a ter um ideário político e ao fim destes anos todos, com outra maturidade e tranquilidade sabem perfeitamente o que querem para os Açores e sabem como alcançá-lo. Desta forma, pode afirmar-se que trinta e nove anos passados sobre o dia 6 de junho o significado desse dia continua cada vez mais atual na nossa vida politica. Mais do que nunca necessitamos que os açorianos venham para a rua e num exercido de cidadania lutem para que a sua vontade possa ser tida em consideração. Tal como em 6 de junho há necessidade de envolver os independentistas na luta política, pois são os únicos que nunca abdicaram das sua ideias e mantiveram a sua condição de leais defensores da ideia de uns Açores Livres e prósperos.

A alma independentista tem sido um património que os açorianos guardam religiosamente porque sabem que esta nunca os abandonará nos momentos mais difíceis, e isto, porque tal contraria a sua natureza. A consciência histórica dos açorianos ensina-lhes que os independentistas serão sempre os últimos a baixar os braços na luta por estas ilhas. Esta condição confere-lhes idoneidade política e moral. Este altruísmo político esteve bem patente quando os independentistas viram muitos dos seus correligionários refugiarem-se nas hostes autonomistas e nunca deixaram de lutar contra Lisboa mesmo sabendo que, naquela fase, os que iriam beneficiar politicamente seriam os autonomistas.

Esta atitude ficou a dever-se ao facto de sabermos que entre a total dependência e a total independência existe uma série de possíveis posições intermédias que se podem aproximar mais um extremo ou do outro e como consequência do nosso compromisso para com estas ilhas, fizemos aquilo que na altura nos pareceu ser o melhor para a nossa Terra. Quando foi necessário optar entre os Açores e a nossa posição política, nem paramos para pensar, a nossa opção foi Açores.

Neste novo ciclo politico que estamos vivendo a acção dos independentistas terá um papel determinante e isto porque ser-se independentista é mais do que uma questão política é uma questão de atitude. A independência é uma construção que implica um processo, que nunca será terminado. Mesmo quando formos um país, e vamos ser de certeza, os independentistas continuarão a existir e de certeza continuarão a ter um papel importante na sociedade em que viverem.

domingo, 23 de junho de 2013

Discurso de 6 de Junho de 2013


Discurso do 6 de junho.

 

Faz hoje 38 anos que o povo saiu à rua. Muitas foram as vozes e muito se fala sobre o que se disse. Na altura tinha 12 anos, estava fascinado com tanta movimentação, mas tinha dificuldade em compreender o que se estava a passar. Era um miúdo, mas não era surdo e ouvi gritarem: Independência. Este não foi o rumo da história. Ficamos autónomos.

Passados todos estes anos talvez seja interessante pararmos para pensar.
O que mudou?
O que aconteceu nos Açores?
Como estamos?
Como olha Lisboa para nós?
Quem somos nós?
Que contributo podemos dar para melhorar a vida dos Açorianos?

O que aconteceu? 

 - O mundo mudou.
- Entramos na era da informática e a informação passou a circular com uma velocidade inimaginável.
- O muro de Berlim caiu.
- A Europa unificou-se.
- Outras potências económicas e políticas emergiram. 

E nós Açores?

1. Conquistou-se um estatuto político-administrativo próprio.
2. Criou-se uma administração regional.
3. Construíram-se portos, aeroportos, estradas, escolas, universidades, hospitais, casas, marinas, coretos e fontenários, ou seja, construiu-se quase tudo de novo porque nós pouco ou nada tínhamos. Enfim, investiu-se em betão.
4. Esqueceram-se que o que faz a diferença são as pessoas e a sua tenacidade.
5. Esqueceram-se que a economia é que confere sustentabilidade às regiões.

Como resultado deste erro como ficamos? 

1. Politicamente, reina um vazio de ideias. A região está sem projeto.
2. As delegações regionais dos partidos políticos deixaram cair o A de Açores e estão totalmente dependentes dos seus pares de Lisboa.
3. Discutem-se questões de gestão, onde imperam interesses pessoais, cargos, prémios, etc.
4. Temos uma administração cara cuja eficiência é muito duvidosa.
5. A nossa universidade está agonizante.
6. A Televisão Regional já teve melhores dias.
7. Ao nível dos transportes continuamos estrangulados por uma política que só favorece meia dúzia.
8. Assinou-se um memorando com Lisboa onde se vendeu poder a troco de interesses políticos imediatos.
9. Continuamos a ter os maiores índices de abandono escolar e os resultados continuam a ser dos piores do país. (E não acredito que sejamos menos capazes).
10. Em termos populacionais verifica-se que algumas ilhas estão a envelhecer, outras estão a perder população e as que mantêm, como é o caso de S. Miguel, veem as populações a concentrar-se à volta dos principais centros urbanos.
11. Enfim, para além da política do betão, continuamos sem soluções próprias para resolver os nossos problemas.
Será que foi para isto que se lutou?
Será que foi para isto que se fizeram tantos sacrifícios? 

Perante este cenário Lisboa esfrega as mãos de contente porque, assim, garante a manutenção dos seus interesses.
Como consequência: continuam a tratar-nos como se fossemos uma possessão, continuam a olha para nós e a dizer: Isto pertence a Portugal, isto é nosso. Nunca ouvi dizer aquilo é Portugal.
Em síntese, estão contentes, porque têm o essencial sob controlo: dirigentes políticos dóceis e submissos que podem ser tratados como personagens de terceiro plano, mesmo quando estão em causa assuntos que dizem respeito aos Açore, inseridos em filiais partidárias disciplinadas.

Perante este cenário o que podemos fazer?
 
Para melhor compreender o nosso contributo, devemos começar por referir o que somos e o que nos distingue dos outros políticos.
 
1. Nós estivemos na origem do pouco poder que foi conquistado pelos açorianos.
2. Estivemos sempre ao lado do poder regional quando este teve diferendos com Lisboa, mesmo não acreditando na sua boa vontade e no seu projeto, mas fizemo-lo porque, por princípio, nunca abandonamos um açoriano que esteja com dificuldades.
3. Colocamos sempre os Açores à frente do:
            - protagonismo politico,
            - bem-estar social e económico,
            - cargos profissionais.
Mesmo sendo vítimas de descriminação politica e profissional, continuamos aqui, firmes nas nossas convicções, e prontos a recomeçar tudo de novo, apesar de muitos afirmarem que está tudo perdido.
4. Somos a reserva política a quem os autonomistas recorrem sempre que estão em conflito com Lisboa, apesar de nos virarem a cara sempre que estão de boas relações com eles e de nos maltratarem quando os alertamos para os perigos que correm, sem que isto arrefeça a nossa vontade de continuar a lutar pelos Açores.
5. Em qualquer circunstância deixamos de estar do lado do povo destas ilhas porque sempre fomos coerentes com a nossa máxima: primeiro os Açores.
É tudo isto o que nos distingue dos outros grupos políticos e Lisboa sabe-o, por isso considera-nos perigosos: nós de facto somos perigosos, não porque sejamos violentos, mas sim porque não hesitaremos em colocar os Açores à frente dos interesses de Lisboa; nós de facto somos perigosos, não porque sejamos violentos, mas sim porque não estamos comprometidos com o poder; nós de facto somos perigosos, não porque sejamos violentos, mas sim porque não fomos corrompidos pelo poder.
Como consequência somos Homens Livres que têm as mãos limpas o que nos tornar incómodos.
6. Enfim, somos aqueles que se mantêm firmes ao princípio: Primeiro os Açores.

Com este perfil, que podemos fazer?

1. Vivemos em democracia onde o poder conquista-se pelos votos.
2. Fazemos parte da União Europeia.
3. Todos os países deste espaço que têm regiões, têm partidos Regionais. 

Por que razão deverá ser diferente em Portugal, quando existem três regiões?
Por que havemos de ser tratados de forma diferente dos outros europeus?

Confrontada com estas evidências, Lisboa nega o óbvio e age como se não existíssemos. Continuam a olhar-nos com desconfiança e sempre com os olhos de quem já foi possuidor de um vasto império. Agarram-se com todas as suas forças a este pouco que resta, como um velho nobre que tudo perdeu.
Ainda recentemente um reputado comentador político dizia: Como em Portugal não existem regiões, não faz sentido que existiam partidos regionais. Fugiu-lhe a boca para a verdade. Falou como se fossemos fantasmas.
De facto, ao longo da história, só se lembraram de nós quando daqui necessitaram de alguma coisa, como acontece no presente. Por outro lado, o século de maior prosperidade que vivemos coincide com o momento em que estivemos mais desligados economicamente de Lisboa.
Assumam abertamente aquilo que lhes vai na alma. Deixem de ser cínicos e digam abertamente: vocês são o que resta do império e para que nos lembremos do que já fomos não podemos libertar-vos porque é a nossa identidade que está em causa. Havemos de esmagar-vos sempre que for necessário para podermos garantir a nossa identidade, não importando o que vocês querem e pensam.
Para terminar gostaria de dizer que entre a total dependência e a total independência existe um conjunto considerável de posições. A ação dos independentistas deve ser orientada por esta ideia, porque compete aos açorianos escolher a posição que pretendem ocupar de acordo com a sua vontade.
Não é admissível que seja Lisboa a impor o modelo de dependência que devemos ter. Temos o direito de negociar as nossas dependências e optar pelo modelo político-administrativo que considerarmos mais adequado à nossa realidade.
Nunca deveremos aceitar que contrariem a ideia de que de que soberania está no povo açoriano. Não devemos aceitar imposições reveladoras de desconfiança, que não têm outro objetivo para além do controlo dos Açores e dos Açorianos.

Em resumo:

1. Que sejam os açorianos a escolher o seu rumo.
2. Participemos mais ativamente na política Regional, lutando por um espaço partidário regional e independentista, evitando, assim que nos empurrem para as margens do sistema.
3. Lutemos por uns Açores que deixem os nossos filhos orgulhosos deles.

 

                                                                                  Rui Machado de Medeiros