Pensar os Açores
Reflexões sobre os Açores
quarta-feira, 1 de abril de 2015
Um dia a independência acontecerá.
FUNERAL DE JOSÉ DE ALMEIDA-RTPA-2014: https://youtu.be/dWdgOWpQhW4
quarta-feira, 3 de dezembro de 2014
Elogio fúnebre ao Dr.º José de Almeida
Caros amigos
O Dr. José de Almeida foi um
homem de fé, acreditou que, a vida era uma passagem. O facto, do destino ser
desconhecido, torna a nossa vida mais exigente, na medida em que, devemos orientá-la
na defesa dos valores, que nos foram transmitidos, primeiro, por Deus e,
depois, pelos homens de boa-fé.
A defesa dos valores, nos quais
acreditamos, exige de nós um esforço que, varia de pessoa para pessoa. A, José
de Almeida foi exigido um esforço muito grande, ao qual correspondeu de forma
digna e nobre.
A nobreza de carácter deste homem
foi testemunhada por muitas pessoas, especialmente, por aquelas que, com ele
privaram mais de perto, nunca, deixou de ser íntegro no pensamento e na ação.
Foi sempre fiel àquilo em que
acreditava. Acreditava na família, por isso fundou uma família exemplar de que,
muito se orgulhava.
Liderou uma causa, a causa
açoriana, com coragem, imbuído do sentimento da defesa dos valores da
liberdade. O homem nasce livre, mas nem sempre usufruiu plenamente dessa
liberdade, justamente, porque necessita de se abrigar no seio de uma sociedade.
A sociedade é uma mescla de
virtudes e defeitos, onde se valoriza os interesses de forma excessiva. Todos
nós temos interesses, a defender, no entanto, devemos evitar, que os nossos
interesses se sobreponham aos interesses do nosso próximo.
O próximo deve ser amado, tarefa
muito difícil de realizar, no entanto, há quem a realize com espirito aberto e
abnegado.
José de Almeida foi um homem de
espírito aberto e abnegado, ouvia todos com cordialidade e prestava-se a discutir
as ideias alheias, com um sentido de grande humildade e elevação.
Num mundo onde o radicalismo está
a frutificar, José de Almeida foi um exemplo, na forma como procurou defender
as suas ideias, sem deixar de valorizar a opinião dos outros.
Homem de convicções claras, que
procurou sempre aprofundar e debater, com a consciência de quem não era dono da
verdade.
Foi um defensor da paz social,
apesar de ter recaído sobre si, o ónus de ações violentas praticadas por
terceiros, sem nunca ter rejeitado responsabilidades, arcou com elas, sem as
ter promovido.
A causa que abraçou tinha um
objetivo, lutou por ele, sem semear ventos, foi um pacificador, que defendia a
negociação e o entendimento como forma de alcançar a independência dos Açores.
Os líderes têm, normalmente, esta
postura, desafiam e combatem com determinação, mas com respeito pelo
adversário. Foi general e soldado nesta campanha, portou-se, sempre, de forma admirável.
José de Almeida podia ter sido um
homem muito importante na sociedade açoriana, ofereceram-lhe essa oportunidade,
mas nunca trocou o seu ideário, por benesses.
Foi vertical, foi honesto com
todos, mesmo com aqueles que desejavam a sua ruína política. A guerrilha
política não fazia parte da sua maneira de ser. Participou no jogo político,
sempre, com lealdade.
O seu exemplo há-de frutificar,
para já, tem um lugar assegurado na história dos Açores, só reconhecível, aqueles,
que contribuíram de forma superior, para o seu engrandecimento.
José de Almeida despertou muitas
emoções e paixões, que permanecerão bem vivas na memória de muitos de nós.
Este homem merece a nossa
admiração e respeito.
Espero, que sejamos capazes de
preservar o seu exemplo e, de dar continuidade ao seu pensamento, se o fizermos,
muitas mudanças irão ocorrer a breve trecho nos Açores.
O futuro a Deus pertence, no
entanto, não nos devemos demitir de contribuir para que, o Povo Açoriano
consiga alcançar, sem aventureirismos, um futuro melhor.
José de Almeida amou a sua
família e, amou com a mesma exemplaridade, a família açoriana.
Bem-haja. Ficam as recordações de
um homem de bem. Paz à sua alma. Aqui fica sepultado um grande homem.
Termino, pedindo a todos os
presentes, uma eloquente salva de palmas, para um paladino, de grande mérito, da
causa açoriana.
sábado, 28 de junho de 2014
Os deputados que temos
Recentemente foi
publicado um artigo no jornal AO intitulado: “FLA, uma causa perdida”. Depois
de alguma ponderação, considerei que deveria escrever estas palavras porque
pareceu-me que, mais do que um artigo de opinião, era um artigo de provocação. Sabendo
que o articulista é deputado regional, considerei que uma pessoa com aquela
responsabilidade, não poderia, nem deveria, referir-se a outros cidadãos com a
arrogância, ironia e falta de respeito que constatei.
Em primeiro lugar
gostaria de dizer que não existem pessoas neutras. Sempre que alguém faz uma
leitura da realidade fá-lo através de uma janela teórica e de valores e a
partir da análise do que afirma é possível identificar o seu quadro de
pensamento e consequentemente as suas motivações e mesmo o seu caráter.
Quando o
articulista escreve: “um grupo de respeitáveis cidadãos, na sua maioria
septuagenários, continua a insistir, a cada ano que passa, na ideia peregrina
do futuro dos Açores passar pela independência”, parece-me que seria mais correto
dizer: um grupo de cidadãos continua a insistir na ideia de que o futuro dos
Açores passa pela independência. Ao recorrer sistematicamente à adjetivação está
a revelar-se tornando-se transparente em relação a certas ideias, como por
exemplo: (1) até prova em contrário, todos os cidadãos são respeitáveis e não
lhe foram atribuídas competências para classificar os cidadãos em respeitáveis
ou não respeitáveis (manifestação de prepotência); (2) o facto de serem cidadãos
septuagenários não lhes retira direitos nem pode ser apresentado como argumento
para fragilizar as suas ideias. Quando se recorre a este argumento é porque se
acredita no contrário (manifestação de descriminação); (3) apesar de alguns
dicionários referirem que, enquanto adjetivo, a palavra peregrino significa «raro; excecional; extraordinário», a
expressão «ideia peregrina» é muitas vezes usada em sentido irónico ou
negativo, como equivalente a «ideia estranha, excêntrica» (manifestação de
arrogância). Aceito que o articulista possa discordar das ideias dos outros,
mas nada lhe confere o direito de as adjetivar da forma que o fez, até porque
faz parte de uma instituição que resultou das lutas que se desenvolverem em
nome das “ideias peregrinas” que refere.
Poderia continuar
a citar mais exemplos indicadores da falta de espirito democrático demonstrado,
mas tenho que analisar a matéria de facto.
O grupo de cidadãos
que, este ano, esteve presente nas celebrações do 6 de Junho (uma simples
conferência de imprensa) era constituído essencialmente por jornalistas,
conferencistas e independentistas de várias idades. Não estavam presentes mais
pessoas da minha geração, porque a maioria tem um horário de trabalho a
respeitar. Os profissionais da política não sabem o que isto significa, porque
para eles os horários são sempre adaptáveis às suas atividades. Eu, para estar
presente, tive que conciliar, com alguma dificuldade, o meu trabalho com a
referida conferência de imprensa.
Segundo o quadro
teórico do articulista “nunca fez sentido os Açores serem independentes” por
duas razões: primeiro “porque somos autónomos” e segundo porque “os
independentistas são meia dúzia de intelectuais românticos (…) que continuam a
acreditar numa causa perdida…”.
Como é óbvio,
nada impede uma região autónoma de se tornar independente e a História confirma
que não seria a primeira vez, para além de que muitos dos países que existem já
foram parte de outros. Quanto à meia dúzia que diz serem os independentistas,
gostava de saber que metodologia aplicou para os contabilizar. Pura intuição, o
que em democracia não confere autenticidade e credibilidade aos factos. No dia
em que os independentistas se puderem organizar em partido e forem a votos, ou
então, seja feito um referendo, aí poderão dizer quantos são. Até lá o correto
é dizer: - Parece-me que os independentistas são um grupo pequeno. Simplesmente,
parece-me. Em relação ao facto de considerar a causa açoriana como perdida,
lamento ter que dizer que todas as causas que vingaram, foram consideradas
perdidas, pelos seus opositores, até ao dia em que se concretizaram.
Quanto à
comparação da nossa situação com Cabo Verde, para se ser rigoroso é necessário
saber quais eram as condições em que se encontrava este país quando se tornou
independente e que percurso fez, ou seja, de onde partiu e onde chegou. Por
outro lado, prefiro comparar o caso dos Açores com o de Malta, parece-me mais
razoável e aí de certeza que vamos ter surpresas. Como acredito na capacidade
empreendedora dos açorianos, considero que têm condições para fazer mais do que
tem sido feito. A grande diferença é que eu acredito nos açorianos e o
articulista não. Também considero que se existisse uma cultura de
responsabilização, os Açores estariam melhor do que estão e verifico que a
autonomia tem sido a grande responsável pelo estado a que chegamos, para o bem
e para o mal. Os Açores estão sem projeto e, como resultado, temos um poder regional
desnorteado, sem ideias, onde os governantes vão-se fechando num mundo que,
cada vez mais, vive isolado da realidade. Os políticos falam uns para os outros
numa linguagem que só eles compreendem, trocando pelouros entre si e quando das
eleições convencem um número cada vez menor de eleitores a lá ir colocar o
voto. Estamos perante um estado de autismo político que necessita ser
invertido, e a única força politica que está em condições de fazê-lo são os independentistas.
Só assim se compreende que um deputado escreva um artigo de opinião
sobre um grupo de cidadãos que considera que lutam por uma causa perdida. Desta
forma, a sua atitude é contraditória. Por um lado, os independentistas são meia
dúzia que lutam por uma causa perdida, mas por outro lado, é necessário
combatê-los.
Por quê tanta preocupação, se são
só meia dúzia?
Lagoa, 19 de Junho de 2014
Rui Machado de Medeiros
sexta-feira, 6 de junho de 2014
Comunicação de 6 de Junho de 2014
Trinta e nove anos
passados sobre o dia 6 de junho o significado desse dia continua cada vez mais
atual na nossa vida politica. Esta afirmação pode parecer uma frase desprovida
de conteúdo que poderia ser formulada por quem quer dizer tudo ou por quem não
quer dizer nada, porém, para que possa ser encontrado o seu sentido é
necessário compreender o que se está a passar na nossa vida politica.
Estamos a viver uma fase
em que o poder Regional se encontra completamente desorientado, sem projeto e
agindo como uma mera estrutura de gestão. Este impasse também é extensivo à
nossa situação económica, pois estamos na mesma posição que estávamos há cem
anos, (uma região essencialmente agrícola, que avançou um pouco no turismo e
nas pescas e recuou na área da industria) o que significa dizer que as políticas
adotadas foram erradas e consequentemente o setor produtivo pouco mudou, exceto
no que se refere à distribuição de riqueza que se tornou mais abrangente.
Por outro lado, Portugal
continua a publicitar as transferências que efetua para a região e esconde os
benefícios que tem com esta possessão, nomeadamente na cobrança de impostos das
empresas que prestam serviços na região e têm sede fora, na exploração do nosso
espaço aéreo, na exploração do nosso mar e nas vantagens inerentes a quem controla
um espaço territorial tão vasto como o açoriano, etc, transmitindo uma imagem de
filantropo e consequentemente fazendo passar a imagem de que só temos a lucrar
com a sua aparente generosidade.
A incapacidade que o
poder regional tem demostrado em contrariar esta condição tem contribuído
grandemente para diminuir a sua autoestima, e consequentemente tem fortalecido
a posição de Lisboa.
Em síntese, os Açores estão
politicamente em recuo e economicamente sem grandes soluções.
É também conveniente salientar que a
autonomia foi uma consequência das lutas independentistas e foi arrancada a
ferros. Não foi uma dádiva, nem tão pouco foi uma conquista da democracia. O
que aconteceu foi que a democracia proporcionou-nos a possibilidade de reivindicarmos
poder, e, então, soubemos aproveitar a brecha que o sistema nos proporcionou. É
importante referir que quando se fala de autonomia, independência ou
centralismo, do que nós estamos a falar é de poder e este não se dá. O poder
arranca-se, conquista-se, exige-se e para tal é necessário que existam condições
para poder o fazer.
Este princípio foi ignorado pelos
autonomistas (não sei se intencionalmente ou não) e convenceram-se que a
autonomia era um direito que naturalmente nos seria reconhecido, que era uma
conquista irreversível e que seria progressiva.
O poder regional cedo
percebeu que o progressivo era muito ambicioso e passou a falar de uma
autonomia tranquila estando neste momento a assistir impávido e impotente à
transformação da autonomia tranquila em autonomia regressiva.
Este facto tem sido possível porque
como o Regime autonómico não tem suporte teórico, ele pode ser o que os
intervenientes bem entenderem. Aqui é uma coisa, em Estanha outra, na Palestina
ainda é outra, visto ser a síntese de duas vontades distintas. Porém, onde quer
que ela surja não consegue contrariar o princípio de que quando existe um
grande e um pequeno o consenso é sempre a vontade do grande. Quando em 75 se
deram os primeiros passos na conquista do poder regional a situação era muito
diferente. Os açorianos estavam cheios de força e acreditavam em si o que os
tornava grandes e lhes permitia sonhar com uma autonomia progressiva. Agora que
a posição açoriana está enfraquecida, a vontade de Lisboa tem imperado.
Com um poder regional desnorteado,
sem ideias, nem projeto, os nossos governantes lá se vão fechando num mundo que
cada vez mais vive isolado da realidade. Os políticos falam uns para os outros
numa linguagem que só eles compreendem, trocando pelouros entre si e quando das
eleições convencem um número cada vez menor de eleitores a lá ir colocar o
voto. Estamos perante um estado de autismo político que necessita ser
invertido, e a única força politica que está em condições de fazê-lo são os
Independentistas. Estes continuam a ter um ideário político e ao fim destes
anos todos, com outra maturidade e tranquilidade sabem perfeitamente o que
querem para os Açores e sabem como alcançá-lo. Desta forma, pode afirmar-se que
trinta e nove anos passados sobre o dia 6 de junho o significado desse dia
continua cada vez mais atual na nossa vida politica. Mais do que nunca
necessitamos que os açorianos venham para a rua e num exercido de cidadania
lutem para que a sua vontade possa ser tida em consideração. Tal como em 6 de
junho há necessidade de envolver os independentistas na luta política, pois são
os únicos que nunca abdicaram das sua ideias e mantiveram a sua condição de
leais defensores da ideia de uns Açores Livres e prósperos.
A alma independentista tem sido um
património que os açorianos guardam religiosamente porque sabem que esta nunca
os abandonará nos momentos mais difíceis, e isto, porque tal contraria a sua natureza.
A consciência histórica dos açorianos ensina-lhes que os independentistas serão
sempre os últimos a baixar os braços na luta por estas ilhas. Esta condição
confere-lhes idoneidade política e moral. Este altruísmo político esteve bem
patente quando os independentistas viram muitos dos seus correligionários
refugiarem-se nas hostes autonomistas e nunca deixaram de lutar contra Lisboa
mesmo sabendo que, naquela fase, os que iriam beneficiar politicamente seriam
os autonomistas.
Esta atitude ficou a dever-se ao
facto de sabermos que entre a total dependência e a total independência existe
uma série de possíveis posições intermédias que se podem aproximar mais um
extremo ou do outro e como consequência do nosso compromisso para com estas
ilhas, fizemos aquilo que na altura nos pareceu ser o melhor para a nossa Terra.
Quando foi necessário optar entre os Açores e a nossa posição política, nem
paramos para pensar, a nossa opção foi Açores.
Neste novo ciclo politico que estamos
vivendo a acção dos independentistas terá um papel determinante e isto porque
ser-se independentista é mais do que uma questão política é uma questão de
atitude. A independência é uma construção que implica um processo, que nunca
será terminado. Mesmo quando formos um país, e vamos ser de certeza, os
independentistas continuarão a existir e de certeza continuarão a ter um papel
importante na sociedade em que viverem.
domingo, 23 de junho de 2013
Discurso de 6 de Junho de 2013
Discurso do 6 de junho.
Faz hoje 38 anos que o povo saiu à rua. Muitas foram as vozes
e muito se fala sobre o que se disse. Na altura tinha 12 anos, estava fascinado
com tanta movimentação, mas tinha dificuldade em compreender o que se estava a
passar. Era um miúdo, mas não era surdo e ouvi gritarem: Independência. Este
não foi o rumo da história. Ficamos autónomos.
Passados todos estes anos talvez seja interessante pararmos
para pensar.
O que mudou?
O que aconteceu nos Açores?
Como estamos?
Como olha Lisboa para nós?
Quem somos nós?
Que contributo podemos dar para melhorar a vida dos
Açorianos?
O que aconteceu?
- O mundo mudou.
- Entramos
na era da informática e a informação passou a circular com uma velocidade
inimaginável.
- O
muro de Berlim caiu.
- A
Europa unificou-se.
- Outras
potências económicas e políticas emergiram.
E nós Açores?
1.
Conquistou-se um estatuto político-administrativo próprio.
2.
Criou-se uma administração regional.
3.
Construíram-se portos, aeroportos, estradas, escolas, universidades, hospitais,
casas, marinas, coretos e fontenários, ou seja, construiu-se quase tudo de novo
porque nós pouco ou nada tínhamos. Enfim, investiu-se em betão.
4.
Esqueceram-se que o que faz a diferença são as pessoas e a sua tenacidade.
5. Esqueceram-se
que a economia é que confere sustentabilidade às regiões.
Como resultado deste erro como ficamos?
1. Politicamente,
reina um vazio de ideias. A região está sem projeto.
2. As
delegações regionais dos partidos políticos deixaram cair o A de Açores e estão
totalmente dependentes dos seus pares de Lisboa.
3. Discutem-se
questões de gestão, onde imperam interesses pessoais, cargos, prémios, etc.
4. Temos
uma administração cara cuja eficiência é muito duvidosa.
5. A
nossa universidade está agonizante.
6. A
Televisão Regional já teve melhores dias.
7. Ao
nível dos transportes continuamos estrangulados por uma política que só
favorece meia dúzia.
8. Assinou-se
um memorando com Lisboa onde se vendeu poder a troco de interesses políticos
imediatos.
9. Continuamos
a ter os maiores índices de abandono escolar e os resultados continuam a ser
dos piores do país. (E não acredito que sejamos menos capazes).
10. Em
termos populacionais verifica-se que algumas ilhas estão a envelhecer, outras
estão a perder população e as que mantêm, como é o caso de S. Miguel, veem as
populações a concentrar-se à volta dos principais centros urbanos.
11. Enfim,
para além da política do betão, continuamos sem soluções próprias para resolver
os nossos problemas.
Será que foi para isto que se lutou?
Será que foi para isto que se fizeram tantos sacrifícios?
Perante este cenário Lisboa esfrega as mãos de contente
porque, assim, garante a manutenção dos seus interesses.
Como consequência: continuam a tratar-nos como se fossemos
uma possessão, continuam a olha para nós e a dizer: Isto pertence a Portugal,
isto é nosso. Nunca ouvi dizer aquilo é Portugal.
Em síntese, estão contentes, porque têm o essencial sob
controlo: dirigentes políticos dóceis e submissos que podem ser tratados como
personagens de terceiro plano, mesmo quando estão em causa assuntos que dizem
respeito aos Açore, inseridos em filiais partidárias disciplinadas.
Perante este cenário o que podemos fazer?
Para
melhor compreender o nosso contributo, devemos começar por referir o que
somos e o que nos distingue dos outros políticos.
1.
Nós estivemos na origem do pouco poder que foi conquistado pelos açorianos.
2.
Estivemos sempre ao lado do poder regional quando este teve diferendos com
Lisboa, mesmo não acreditando na sua boa vontade e no seu projeto, mas
fizemo-lo porque, por princípio, nunca abandonamos um açoriano que esteja com
dificuldades.
3.
Colocamos sempre os Açores à frente do:
- protagonismo politico,
- bem-estar social e económico,
- cargos profissionais.
Mesmo sendo vítimas de descriminação politica e profissional, continuamos aqui, firmes nas nossas convicções, e prontos a recomeçar tudo de novo, apesar de muitos afirmarem que está tudo perdido.
Mesmo sendo vítimas de descriminação politica e profissional, continuamos aqui, firmes nas nossas convicções, e prontos a recomeçar tudo de novo, apesar de muitos afirmarem que está tudo perdido.
4.
Somos a reserva política a quem os autonomistas recorrem sempre que estão em
conflito com Lisboa, apesar de nos virarem a cara sempre que estão de boas
relações com eles e de nos maltratarem quando os alertamos para os perigos que
correm, sem que isto arrefeça a nossa vontade de continuar a lutar pelos
Açores.
5. Em
qualquer circunstância deixamos de estar do lado do povo destas ilhas porque
sempre fomos coerentes com a nossa máxima: primeiro os Açores.
É tudo isto o que nos distingue dos outros grupos políticos e
Lisboa sabe-o, por isso considera-nos perigosos: nós de facto somos perigosos,
não porque sejamos violentos, mas sim porque não hesitaremos em colocar os
Açores à frente dos interesses de Lisboa; nós de facto somos perigosos, não
porque sejamos violentos, mas sim porque não estamos comprometidos com o poder;
nós de facto somos perigosos, não porque sejamos violentos, mas sim porque não
fomos corrompidos pelo poder.
Como consequência somos Homens Livres que têm as mãos limpas o
que nos tornar incómodos.
6.
Enfim, somos aqueles que se mantêm firmes ao princípio: Primeiro os Açores.
Com este perfil, que podemos fazer?
1. Vivemos
em democracia onde o poder conquista-se pelos votos.
2. Fazemos
parte da União Europeia.
3. Todos
os países deste espaço que têm regiões, têm partidos Regionais.
Por
que razão deverá ser diferente em Portugal, quando existem três regiões?
Por
que havemos de ser tratados de forma diferente dos outros europeus?
Confrontada com estas evidências, Lisboa nega o óbvio e age
como se não existíssemos. Continuam a olhar-nos com desconfiança e sempre com
os olhos de quem já foi possuidor de um vasto império. Agarram-se com todas as
suas forças a este pouco que resta, como um velho nobre que tudo perdeu.
Ainda recentemente um reputado comentador político dizia:
Como em Portugal não existem regiões, não faz sentido que existiam partidos
regionais. Fugiu-lhe a boca para a verdade. Falou como se fossemos fantasmas.
De facto, ao longo da história, só se lembraram de nós quando
daqui necessitaram de alguma coisa, como acontece no presente. Por outro lado,
o século de maior prosperidade que vivemos coincide com o momento em que
estivemos mais desligados economicamente de Lisboa.
Assumam abertamente aquilo que lhes vai na alma. Deixem de
ser cínicos e digam abertamente: vocês são o que resta do império e para que
nos lembremos do que já fomos não podemos libertar-vos porque é a nossa
identidade que está em causa. Havemos de esmagar-vos sempre que for necessário
para podermos garantir a nossa identidade, não importando o que vocês querem e
pensam.
Para terminar gostaria de dizer que entre a total dependência
e a total independência existe um conjunto considerável de posições. A ação dos
independentistas deve ser orientada por esta ideia, porque compete aos
açorianos escolher a posição que pretendem ocupar de acordo com a sua vontade.
Não é admissível que seja Lisboa a impor o modelo de
dependência que devemos ter. Temos o direito de negociar as nossas dependências
e optar pelo modelo político-administrativo que considerarmos mais adequado à
nossa realidade.
Nunca deveremos aceitar que contrariem a ideia de que de que soberania
está no povo açoriano. Não devemos aceitar imposições reveladoras de
desconfiança, que não têm outro objetivo para além do controlo dos Açores e dos
Açorianos.
Em
resumo:
1. Que
sejam os açorianos a escolher o seu rumo.
2. Participemos
mais ativamente na política Regional, lutando por um espaço partidário regional
e independentista, evitando, assim que nos empurrem para as margens do sistema.
3. Lutemos
por uns Açores que deixem os nossos filhos orgulhosos deles.
Rui
Machado de Medeiros
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